Curso é voltado aos profissionais da educação.
Com discussões acerca da violência baseada no gênero e suas causas, teve início hoje (4) na EPM o curso Introdução aos direitos humanos, violência doméstica, gênero e relações étnico-raciais para profissionais da educação, realizado em parceria com a Coordenadoria da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar do Poder Judiciário do Estado de São Paulo (Comesp). As professoras Beatriz Accioly Lins de Almeida e Arielle Sagrillo Scarpati fizeram as exposições iniciais. Com dez encontros, o curso teve 638 matriculados nas modalidades presencial e a distância, abrangendo 99 comarcas e 18 estados.
Na abertura, a desembargadora Marcia Lourenço Monassi, vice-coordenadora da Comesp e coordenadora do curso, agradeceu a presença de todos e destacou o objetivo de integrar a comunidade escolar no desenvolvimento de estratégias para prevenção e enfrentamento das diversas formas de violência contra meninas e mulheres. A desembargadora Flora Maria Nesi Tossi Silva, coordenadora da Comesp e do curso, ressaltou que os profissionais da educação são agentes transformadores da sociedade e que todos precisam contribuir para a diminuição da violência contra crianças e adolescentes e no âmbito das famílias.
A juíza Rafaela Caldeira Gonçalves, integrante da Comesp e coordenadora do curso, afirmou que um dos eixos que serão trabalhados nos encontros é a desconstrução de estereótipos ligados à violência. Ela também frisou a importância do contato entre agentes da educação e do sistema de Justiça no enfrentamento à violência de gênero.
O encontro foi conduzido pela desembargadora Angélica de Maria Melo de Almeida, que falou sobre os estereótipos de gênero que marginalizam mulheres e meninas no acesso aos direitos fundamentais.
Iniciando as exposições, Arielle Scarpati lembrou que a escola tem a função de proteger a criança e o adolescente, além de ser o espaço de maior interação social. Ela salientou a necessário de trazer o debate da violência de gênero para as salas de aula, para desenvolver uma postura crítica nos alunos. “É fundamental estimular nos jovens uma reflexão que possibilite a compreensão das implicações éticas, legais e políticas de diferentes posições sobre o tema, a fim de que eles construam a sua própria opinião”, disse.
A professora afirmou que as relações de poder historicamente desiguais entre homens e mulheres são as principais causas da violência baseada no gênero, mas outros fatores também contribuem, como a pobreza, o desemprego e a falta de acesso à educação. Ela apontou que o medo constante de sofrer agressões, discriminações ou assédio podem elevar o nível de estresse e ansiedade, afetando a concentração e o aprendizado. “A erradicação da violência baseada no gênero nas escolas não é só uma necessidade moral, mas uma condição essencial para a construção de sociedades mais justas e equitativas. O ambiente escolar precisa ser de acolhimento, de segurança e de respeito, onde meninas e meninos possam se desenvolver livres de violência”, concluiu.
Na sequência, Beatriz Almeida discorreu sobre a violência na visão das ciências sociais, como a Antropologia e a Sociologia. Ela lembrou que a violência é um problema global e pode ter diferentes conceitos dependendo da realidade de cada lugar. “A violência é o que chamamos de conceito instável. Tem variações de contexto, mas é ponto pacífico que ela está relacionada às desigualdades”, afirmou.
A expositora ponderou que, por ter diferentes conceitos, a definição de violência acaba sendo um problema para o Direito, que se propõe a tangibilizar e solidificar a experiência humana em categorias definidas. “Seria fundamental a construção de um arcabouço compartilhado para tratar de fenômenos sociais descritos como violentos, sob uma ótica mais maliciosa, que desconfie dessas associações inequívocas entre conflito, sofrimento e violência. Violência talvez seja uma das categorias que nos constituem”, afirmou.
RL (texto)