Show de rap abre programa cultural na Penitenciária Parada Neto
“Quem sabe os irmão um dia compreendam que o crime e as drogas não passam de doenças. É só cadeia, velório, destruição. Tristezas em família. Só decepção.” "Grades de ferro, chão de concreto. Na prisão tudo é quadrado do piso até o teto. É desanimante, é feio, é triste. Rouba sua brisa, só quem é resiste.”
Ao ouvir esses versos e outras músicas de Marcos de Omena, rapper conhecido como Dexter, que atualmente cumpre pena em regime semi-aberto na Penitenciária José Parada Neto, em Guarulhos, o juiz da Vara das Execuções Criminais da cidade, Jayme Garcia dos Santos Junior, teve uma ideia: usar o trabalho e a popularidade do cantor para desenvolver um projeto cultural de reinserção dos reeducandos da unidade. “Queremos mostrar, por meio de atividades culturais, que esses homens têm outras opções na vida. Que podem seguir outro caminho, diferente daquele que um dia os levou para prisão”, afirmou o magistrado.
O juiz convidou o cantor Dexter, que em parceria com o Instituto Crescer criou um trabalho de oficinas culturais, para ensinar algum tipo de arte aos detentos. As aulas acontecerão às quintas-feiras durante seis meses. Para fevereiro já estão agendadas as oficinas de hip hop, grafite e discotecagem. No último domingo de cada mês será feito um sarau em que os participantes apresentarão os trabalhos desenvolvidos nas aulas. “Os reeducandos em geral são pessoas carentes de cultura, educação e oportunidade. O projeto pretende levar esse tipo de informação e ajudá-los na vida lá fora”, explicou Dexter.
O lançamento do projeto, que se chama “Como vai seu mundo?”, inspirado em uma canção do rapper que leva o mesmo nome, aconteceu ontem (30), na Penitenciária Parada Neto. No evento, os cerca de 480 reeducandos do anexo semi-aberto puderam ouvir a palavra de incentivo do magistrado das Execuções, do cantor e de Dilermando Allan Filho, presidente do conselho de administração do Instituto Crescer. “O Instituto é comprometido com o desenvolvimento do ser humano. Não acreditamos que existam pessoas completamente boas ou más. Quem já fez coisas erradas no passado, pode se recuperar”, disse Dilermando.
Em seguida, assistiram a um show de rap com Dexter e convidados, entre eles os cantores Erick White, Don Pixote, o rapper mirim Cauan, e Gog, que veio de Brasília para a apresentação. “Os reeducandos reagem muito bem a esse tipo de ação, que proporcionam o contato direto com a sociedade, oxigenam a rotina e fortalecem a auto-estima. Por isso é muito importante trazer a sociedade para dentro da penitenciária e mostrar a esses homens que estamos interessados em sua reinserção”, falou o juiz.
E.B.S., que também cumpre pena no semi-aberto do Parada Neto, pretende participar das aulas. “A gente não ocupa a mente com nada e agora vamos ter essas atividades. As letras do Dexter falam sobre a nossa realidade e ele é um exemplo. Teve oportunidade de melhorar e agarrou. A maioria aqui também quer uma chance”, disse E.B.S.
De acordo com o juiz, o objetivo é tornar o projeto permanente, para que esse tipo de atividade passe a fazer parte da rotina dos reeducandos. “Eles falam muito em liberdade. Só que não existe apenas a liberdade de locomoção, mas também a liberdade de escolha. E a escolha pela liberdade total começa aqui. Ainda que um homem fique 30 anos na cadeia, um dia ele vai sair, e precisa fazer escolhas certas. Se não mostrarmos as opções que eles têm, vão voltar a fazer o que faziam antes”, concluiu o magistrado.
O evento também recebeu o apoio da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP), que foi representada pelo coordenador da capital e grande São Paulo, Hugo Berni Neto.
Assessoria de Imprensa TJSP – CA (texto) / DS (fotos)