InspirAÇÕES: Entre o Direito e a Saúde, servidora segue a voz do coração

Enfermeira judiciária surda utiliza tecnologia do ouvido biônico.
 
Sheila de Souza Vieira é enfermeira judiciária no Tribunal de Justiça de São Paulo, tem 37 anos e uma trajetória de vida marcada por desafios e superações. A servidora tem surdez bilateral desde a adolescência, mas voltou a ouvir por meio de implante coclear, também conhecido como “ouvido biônico”. Ela ingressou no TJSP em dezembro de 2011, lotada no ambulatório do Gade Conselheiro Furtado. Trabalhou em outros prédios e atualmente integra a equipe do NAT-Jus e faz parte da Comissão de Acessibilidade do TJSP. “Gosto muito de trabalhar no Tribunal. É onde construí amizades para vida toda. Sempre tive apoio para continuar me capacitando profissional e academicamente e para adaptar minha rotina da melhor maneira possível em relação à minha deficiência”, contou.
Natural de Aracaju (SE), onde passou a infância, Sheila viu sua vida mudar completamente em maio de 1999. Com apenas 13 anos, teve meningite meningocócica e, como sequela, ocorreu a perda bilateral profunda da audição. A partir daí, a surdez mudou o rumo de sua vida. Sheila cantava no coral da igreja, fazia aulas de piano e inglês e era apaixonada por música e línguas. “Como minha surdez era neurossensorial profunda, mesmo os aparelhos auditivos mais potentes não me permitiam compreender a fala. Em meio a muitas buscas, minha família descobriu um estudo no centro de pesquisas da Universidade de São Paulo, com um dispositivo chamado Implante Coclear (IC)”. A mudança de Sergipe para São Paulo foi imediata para o tratamento.
“Foi graças à tecnologia do IC que voltei a ouvir. Já passei por três cirurgias e sou muito feliz com os resultados”, destaca. O Implante Coclear é um dispositivo eletrônico que possibilita que pessoas com surdez sensorioneural de grau severo ou profundo possam escutar. Ele possui uma parte interna – implantada cirurgicamente sob a pele atrás da orelha – que se conecta com a parte externa, chamada de processador de áudio, por meio de imãs. O processador de áudio capta, processa e codifica os sons do ambiente e da fala e os transmite, por radiofrequência, para o implante interno. Ele possui um feixe de eletrodos que gera estímulos elétricos na cóclea, que são captados pelo nervo auditivo e enviados para que o cérebro processe a informação.
A primeira cirurgia de Sheila foi seis meses após o episódio de meningite, ainda em 1999. Com o sucesso do procedimento e os resultados positivos alcançados, foi apenas depois de dez anos que ela passou por nova intervenção, desta vez na orelha esquerda. Todo o empenho valeu a pena. A servidora voltou a praticar música e a se dedicar aos estudos, sem se intimidar com as barreiras. Da primeira formação em Enfermagem, em 2007, depois em Fonoaudiologia, à conclusão do doutorado em Distúrbios da Comunicação Humana e o Fellowship em Implante Coclear, entre 2013 e 2023, as conquistas somam muito mais que as dificuldades enfrentadas pela deficiência auditiva.
“A surdez me fez ver a vida com outra perspectiva, me ensinou a valorizar mais as pequenas coisas e acabou direcionando toda minha vida acadêmica e profissional. Foi o que me motivou nas pesquisas de mestrado e doutorado, e a me tornar fonoaudióloga e realizar um Fellowship em Implante Coclear, justamente no Centro de Pesquisas onde fiz meu primeiro implante, há 24 anos. Foi uma experiência incrível retornar, não mais como uma adolescente surda, mas como fonoaudióloga, para ajudar outras famílias que estavam passando pela mesma experiência que passei”, refletiu. Sheila pretende usar seu conhecimento também no Judiciário paulista, auxiliando servidores, magistrados e familiares que convivem com a perda auditiva.
Além da atuação como enfermeira, Sheila já participou de diversas palestras e apresentações culturais no Tribunal a convite da Diretoria de Apoio aos Servidores e da Secretaria de Gestão de Pessoas (SGP) e é ativista em causas relacionadas à inclusão de pessoas surdas implantadas. “Tenho um trabalho nas mídias sociais de encorajamento e empoderamento no enfrentamento da surdez. Essa é uma das coisas que mais me faz feliz: ajudar outras pessoas surdas a terem acesso à comunicação, seja ela por tecnologias auditivas ou por meio da Libras.” Ela destaca, ainda, a importância do aprendizado da Língua Brasileira de Sinais (Libras) como meio de comunicação e inclusão. 
A história de Sheila encerra unindo sonhos e construindo novos pela frente.  “O sonho do meu pai era que eu fizesse Direito, mas meu coração sempre foi da área da saúde. Por isso decidi pelo curso de Enfermagem e, mais tarde, me formei também em Fonoaudiologia. No final, de certo modo, acabei realizando o sonho dele ao ingressar no Judiciário. Sim, sou enfermeira judiciária e amo o que eu faço.” 
 

Comunicação Social TJSP – TM (texto) / KS (foto)
 
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