Presidente do TJSP homenageia desembargadores
O presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, desembargador Roberto Antonio Vallim Bellocchi, prestou na última sexta-feira (1º/8) uma homenagem aos desembargadores Carlos Ramos Stroppa, que se aposentará em breve; Jarbas João Coimbra Mazzoni, que hoje (4/8) se aposenta por completar 70 anos; e Luiz Elias Tâmbara, que naquela data completou 68 anos.
A homenagem aconteceu na sala da Presidência do TJSP, no Palácio da Justiça, região central da capital.
Leia abaixo a íntegra da carta de despedida do desembargador Jarbas João Coimbra Mazzoni:
São Paulo, 1º de agosto de 2008.
Preclaro Presidente, desembargador Roberto Vallim Bellocchi:
Após 45 anos de exercício da Magistratura, encontro-me a poucos dias da jubilação, por força de imperiosa, mas descabida, disposição constitucional.
Devo falar, então, a Vossa Excelência de minha aposentadoria e, como é de praxe, para as palavras de adeus e as reverências de gratidão.
É de preceito, entre as regras do convívio social, que não falemos de nós, em nossos discursos ou em nossas mensagens, pois é muito raro que o falar de si não enverede pela estultícia ou pela fatuidade. Tratei, então, de procurar em meus alfarrábios uma síntese para o momento que se aproximava e que pudesse traduzir, numa frase, a confusão de sentimentos que o inspiravam.
Ocorreram-me, a princípio, o “Rondel de l’adieu”, de Haraucourt, e a “Despedida”, de Ramón y Cajal, entre outras. Mas todas traziam uma acentuada conotação de desalento, quando estes instantes não são, nem de desalento, nem de desesperança.
Estava a desistir da busca quando me deparei com verso admirável de Shakespeare: “Parting is such a sweet sorrow” (“Partir é tal qual uma doce tristeza”).
O homem é sempre começo e, quando pensa que se perfez por inteiro, mal sabe que os marcos de sua existência são como os marcos miliários das estradas: fixam o caminho percorrido, mas desvendam as trilhas que ainda há por percorrer.
Deixo o Tribunal, mas o faço com o sentimento do dever cumprido e a consciência tranqüila.
Devo ter errado repetidas vezes, pois a missão do Juiz é ingente, quase sobre-humana. No entanto, posso afiançar que jamais errei com consciência. Só me curvei, nesses 45 anos, a uma submissão: aos interesses da Magistratura e do Tribunal de Justiça. Nenhuma outra concessão me permiti.
Esse foi o fervor de meus primeiros dias, quando, nos idos de 1963, nomeado Juiz Substituto da 14º Circunscrição Judiciária, com sede em Itapetininga; esse foi o fervor que guardei nas Comarcas que percorri, até alcançar este Eg. Tribunal, onde fui dignificado, com a escolha de meus pares, para os cargos de Presidente da Seção Criminal (então 2º Vice-Presidente) e Vice-Presidente do Tribunal de Justiça; chegando a ocupar, por força da magnanimidade de Vossa Excelência, a sua cadeira mais alta.
“Le plus grand métier des hommes c’est d’unir les hommes” (“A mais alta missão dos homens é a de unir os homens”) - Exupéry. Vossa Excelência, Presidente Bellocchi, cumpristes à letra essa missão.
Hoje, minhas horas são de adeus; adeus a todos os que me rodearam; adeus a todos os que me compreenderam e que me relevaram os erros.
Minha mais profunda gratidão a todos e de todas as hierarquias; aos irmãos de toga; aos Juízes Assessores e Assistentes Jurídicos de meu gabinete, e aos servidores da Secretaria.
Apenas quero salientar que a experiência foi extremamente gratificante. Se nestes 45 anos de exercício da Magistratura sofri desalentos e agruras, não guardo nenhum dissabor. Ao contrário, só tenho a todos, sem nenhuma distinção, palavras de gratidão.
Se algum resquício de mágoa deixei na trilha que percorri, creiam-me, o fiz involuntariamente.
Minha profunda gratidão a todos. Só posso dizer a cada um que os levo comigo, assim como o meu Trinbunal, que tanto motivou a minha existência.
E a Vossa Excelência, Senhor Presidente, eu e minha mulher, Célia Ruth, que acompanhou a carreira desde os primeiros passos, desejamos toda sorte de venturas; que Deus ilumine os caminhos de Vossa Excelência, para que, sob o vosso comando, o Tribunal continue a desfrutar do prestígio que as décadas sedimentaram.
Jarbas João Coimbra Mazzoni