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TJSP participa da entrega do colar “Carlos de Souza Nazareth”

    O Tribunal de Justiça de São Paulo promoveu ontem (7/7), para comemorar os 76 anos da Revolução Constitucionalista de 1932, a solenidade de entrega do colar “Carlos de Souza Nazareth”, instituído pela Associação Comercial de São Paulo. O presidente do TJSP, desembargador Roberto Antonio Vallim Bellocchi, foi um dos agraciados com o recebimento da honraria.
    Ao lado do presidente do TJSP, também receberam o colar o presidente da Assembléia Legislativa de São Paulo, deputado Vaz de Lima; o governador José Serra e o prefeito da capital, Gilberto Kassab. 
    O chefe do Cerimonial e Relações Públicas do Tribunal, poeta Paulo Bomfim, lembrou a participação do então presidente do TJSP, Manoel da Costa Manso, durante revolução de 32 e a de Carlos de Souza Nazareth, então presidente da Associação Comercial de São Paulo.  Afirmou que “o colar Carlos de Souza Nazareth envolve agraciados e público presentes num ritual de amor e devoção aos ideais de 32”. Por fim, recitou o poema de sua autoria “O que foi 32?”, aplaudido de pé pelo público presente. Segue ao final o discurso na íntegra do poeta Paulo Bomfim.
    O presidente da Associação Comercial do Estado de São Paulo, Alencar Burti, ressaltou a participação da Associação Comercial de São Paulo na revolução, lembrando que “Carlos de Souza Nazareth, de apenas 33 anos, em seu discurso de posse na presidência da Associação Comercial, já clamava pela realização da constituinte”. Disse ainda: “participamos de forma ativa de um movimento que refletia não apenas um sentimento de todas as classes sociais, mas a busca da liberdade”.
     Após a entrega dos colares, o prefeito Gilberto Kassab cumprimentou os colegas homenageados e disse: “ao receber essa homenagem, momento em que todos nós relembramos os nossos heróis de 32, cabe a mim ratificar nossos compromissos como paulistanos de continuar lutando por uma cidade mais justa, mais igual, para honrar a memória daqueles que tombaram um dia, seja por nosso estado, seja pela paz”. 
    O governador do Estado de São Paulo, José Serra, contou detalhes históricos da revolução e alertou para o fato de que o significado do Nove de Julho, único feriado estadual de São Paulo, foi se perdendo ao longo das gerações. Lembrou que a revolução nunca teve caráter separatista e se tratava de um movimento nacional: “o que houve foi o isolamento militar do estado devido a limitações do próprio comando. Na verdade, nos batalhões havia gente de diversos estados e as palavras de ordem eram nacionais”.  Afirmou também que “a revolução de 32 não foi uma contra-revolução em relação a 1930, mas o que se procurou foi dar seqüência às questões mais fundamentais da revolução de 30, entre elas o voto secreto e a democracia constitucionalmente organizada”.  O governador destacou ainda a competência do TJSP quanto à preservação das leis, do direito e da liberdade, reafirmando o apreço que o povo paulistano tem por esses valores.  
    O presidente do TJSP, desembargador Roberto Antonio Vallim Bellocchi, encerrou a solenidade destacando que todas as entidades, mesmo com divergências, andam de mão dadas e essas mãos não se separam. Lembrou que “assim como Ibrahim Nobre, neste plenário, acusou a ditadura, devemos continuar acusando em qualquer parte do mundo”. Citou ainda Guilherme de Almeida, o pai da revolução, afirmando que “toda ditadura não resiste ao menor desequilíbrio”. E, por fim, homenageou o poeta Paulo Bomfim, afirmando “o quanto São Paulo vai cultuá-lo até Deus envelhecer”. 
    Entre as autoridades presentes estavam o vice-presidente do TJSP, desembargador Jarbas João Coimbra Mazzoni; o corregedor geral da Justiça, Ruy Pereira Camilo; o presidente da Seção Criminal do TJSP, desembargador Eduardo Pereira Santos; o presidente da Seção de Direito Privado do TJSP, Luiz Antonio Rodrigues da Silva; o presidente da Seção de Direito Público em exercício, desembargador José Geraldo Barreto Fonseca; o ouvidor do TJSP, desembargador Mohamed Amaro; o desembargador Armando Sérgio Prado de Toledo, membro do Conselho Consultivo e de Programas da Escola Paulista da Magistratura, representando o diretor; o presidente da Associação Paulista de Magistrados em exercício, desembargador Paulo Dimas de Bellis Mascaretti; o general de exército Antonio Gabriel Esper, comandante militar do sudeste; o procurador de Justiça Walter Paulo Sabella, representando a Procuradoria Geral da Justiça; o procurador geral do Estado de São Paulo, Marcos Fábio de Oliveira Nusdeo; a defensora pública geral do Estado, Cristina Guelfi Gonçalves; o presidente do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, Eduardo Bittencourt Carvalho; o presidente do Tribunal de Justiça Militar de São Paulo, Coronel PM Fernando Pereira; o Secretário de Estado da Justiça e da Defesa da Cidadania, Luiz Antonio Guimarães Marrey; o secretário de Estado da Segurança Pública, Ronaldo Augusto Bretas Marzagão; o secretário de Estado do Emprego e Relações do Trabalho, Guilherme Afif Domingos; o Secretário de Estado de Esporte, Lazer e Turismo, Claury Santos Alves da Silva; o secretário de Estado de Assistência e Desenvolvimento Social, Rogério Pinto Coelho Amato; o deputado estadual Barroz Munhos; a deputada estadual Célia Leão; o deputado estadual João Barbosa; o comandante geral da Polícia Militar do Estado de São Paulo, coronel PM Roberto Antonio Diniz; o delegado geral de Polícia adjunto, Paulo Afonso Bicudo, representando o delegado geral de Polícia do Estado de São Paulo; a diretora adjunta da Ordem dos Advogados do Brasil, secção São Paulo, Tallulah Carvalho, representando o presidente; o Secretário dos Negócios Jurídicos do Município de São Paulo, Ricardo Dias Leme; o secretário municipal dos Transportes, Alexandre de Moraes; o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – FIESP, Paulo Skaf; o presidente da Associação dos Advogados de São Paulo, Márcio Kayatt; o presidente da Associação Paulista do Ministério Público, Washington Epaminondas Medeiros Barra; e o presidente da Sociedade dos Veteranos de 32 - MMDC, capitão reformado do Exército Gino Struffaldi. 

O colar 
    Criada em 2002, a Comissão Cívica e Cultural da Associação Comercial de São Paulo tem entre seus objetivos a instituição de uma honraria destinada a homenagear pessoas físicas e jurídicas que se destacam pela prática de ações relevantes em prol do bem comum. Nesse mesmo ano ficou decidido que essa honraria seria concedida na forma de um colar, que leva o nome de Carlos de Souza Nazareth.  

Carlos de Souza Nazareth 
    Era um jovem empresário que tomou posse na presidência da Associação Comercial de São Paulo em fevereiro de 1932, aos 33 anos de idade, ano em que eclodiu o Movimento Constitucionalista de 1932. Foi quando engajou a entidade na luta pela reconstitucionalização do país, arrecadando recursos, chamando voluntários e organizando a logística do movimento. 
    Após a derrota militar paulista, foi preso e deportado para Portugal, retornando ao Brasil somente dois anos depois, com a consolidação da legalidade em nosso país, quando foi eleito deputado estadual. No entanto, deixou definitivamente a vida política com o golpe de Getúlio Vargas em novembro de 1937. Carlos de Souza Nazareth morreu em 28 de março de 1951, aos 52 anos de idade.

Íntegra do discurso do poeta Paulo Bomfim

Esta solenidade nasce sob a inspiração de dois varões de Plucarco de nossa História: Manuel da Costa Manso, Presidente do Tribunal de Justiça em 1932, e Carlos de Souza Nazareth, Presidente da Associação Comercial de São Paulo nessa época. Seus ilustres sucessores, Presidente Vallim Bellocchi e Alencar Burti, idealizaram a realização deste encontro de São Paulo com suas raízes cívicas.O Colar Carlos de Souza Nazareth envolve agraciados e público aqui presentes num ritual de amor e devoção aos ideais de 32.
Setenta e seis anos são decorridos e o pequeno escoteiro de outrora, revê neste instante, vida, paixão de transfiguração de sua terra.
Intactas as lembranças que falam do 23 de Maio, quando dois vizinhos de sua casa, tombaram na Praça da República:  Martins e Drausio que, juntamente com Miragaia e Camargo, escreveriam com sangue a legenda do MMDC.

Nove de Julho palpitava nos versos de Guilherme de Almeida e no verbo de Ibrahim Nobre o promotor que aqui, neste Tribunal do Júri, a partir de 1930 bradava: 
– Eu acuso a ditadura!

Dois ícones, duas lendas que ajudaram a traçar os passos de meu caminho.

Guilherme, prefaciando em 1947, Antonio Triste, meu primeiro livro e Ibrahim me recebendo na Academia Paulista de Letras na noite de 23 de Maio de 1963.  Mauricio Loureiro Gama comentou pela TV Tupi:   
– Não foi uma posse, foi um comício!

Ah, o desfilar de evocações povoando salas, corredores e escadarias deste templo da Justiça!
Quantos numes tutelares de nosso Judiciário fizeram de seus ideais bandeira de treze listas na vigília da trincheira, pia batismal da democracia brasileira!
De minha convivência ressurgem fardados Adriano Marrey, Sebastião de Vasconcellos Leme, Valentim Alves da Silva, Manuel da Costa Leite, Odilon da Costa Manso, Atugasmin Medici Filho, Washington de Barros Monteiro, Julio Ignacio Bomfim Pontes, Humberto de Andrade Junqueira e tantos outros que desfilam no evocar do poeta que sente que a saudade é a esperança do Passado, e esse Passado aqui Presente é Futuro iluminando o Mausoléu de nossos heróis no Ibirapuera, com a bênção dos que partiram legando aos que ficaram o juramento de fidelidade do 9 de Julho, ao glório São Paulo de 32, no dizer de Guimarães Rosa.
Que esta solenidade se transforme em clarinada lembrando que os jovens de 32 não sonharam, não lutaram e não morreram inutilmente.

O QUE FOI 32?

Paulo Bomfim

Foi a soma dos sonhos e do sacrifício de um povo, a confraternização de raças e condições sociais no batismo das trincheiras; o esforço das indústrias, o despreendimento do comércio, a grandeza de uma causa, a generosidade dos moços, a participação dos cabelos brancos, o entusiasmo das crianças, a força que vem da mulher-terra paulista, o verbo dos poetas e dos tribunos, dos jornalistas e dos sacerdotes; a sacralidade da lei, o fuzil ao lado do livro, a trincheira continuação da escola, a caserna dependência do lar, o campo de batalha, sementeira de justiça!
O que foi 32?
Foi bandeira que voltou do passado, passado que se transformou em bandeira, bênção de Anchieta e de Frei Galvão, vigília de João Ramalho, grito de guerra de Tibiriçá, inspiração de Bartira, presença dos que partiram, convocação do amanhã, cocar-capacete de aço, gibão que virou farda cáqui, canoa monçoeira transformada em trem blindado, mortos e vivos marchando, igreja, escola, oficina em batalhões rezando a mesma oração, prece de amor e esperança, holocausto e clarinada, asa de glória gravando no sangue das gerações:  
Enquanto houver injustiça,
Enquanto houver sofrimento,
Enquanto a terra chorar,
Enquanto houver pensamento,
Enquanto a história falar,
Enquanto existir beleza,
Enquanto florir paixão,
Enquanto o sonho for sonho,
Enquanto o sangue for sangue,
Enquanto existir saudade,
Enquanto houver esperança,
Enquanto os mortos velarem,
 - É sempre 9 de julho!


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