Em época de Copa do Mundo, a paixão de um magistrado colecionador de figurinhas
O futebol sempre despertou grandes paixões por todo do planeta. No desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo e professor universitário Moacir Andrade Peres, o esporte bretão também revelou outra grande emoção: a de colecionar figurinhas, desde o final da década de 50. Na ocasião, ele não guardou os álbuns que colecionou no período, mas, há aproximadamente dez anos, resolveu restabelecer os sentimentos do passado e foi em busca das figurinhas que não foram guardadas.
A coleção que possui hoje somente foi possível em razão da aquisição do acervo da família de um colecionador falecido, Laerte Pastore, entusiasta de álbuns de figurinhas e cartões postais. A partir dessa compra, Moacir resolveu não se limitar aos álbuns da sua época de infância e atingiu períodos anteriores e posteriores.
Embora a coletânea coleção se restrinja ao tema futebol, o colecionador optou por delimitá-la. Para isso, seguiu as palavras do escritor e filósofo italiano Umberto Eco: "Pode-se executar seriamente até uma coleção de figurinhas: basta fixar o tema, os critérios de catalogação, os limites históricos da coleção". Pensando assim, eliminou os álbuns não editados no País e, atualmente, o acervo possui cerca de 600 álbuns diferentes. Entretanto, se considerados os repetidos, utilizados para troca, o número quintuplica. Só os das 'Balas Futebol' são quase 250.
Os queridinhos – Atualmente seus álbuns preferidos não são aqueles colecionados no passado. "Minha predileção recai nos álbuns das 'Balas Futebol', veiculados entre 1938 e 1960. Trata-se de coleção de grande repercussão, não apenas pela longa sequência de anos, mas, principalmente, pela constante reciclagem e renovação gráfica (desenhos, caricaturas, fotografias dos atletas, charges, mascotes e lances de jogo). Dois grandes artistas gráficos já falecidos – Nino Borges e Miécio Caffé – participaram da elaboração das capas e diagramação dos álbuns", ressalta Moacir Peres. "Os álbuns eram o elo entre os meninos da época e seus ídolos."
Desafio – Para o desembargador, completar a coleção representa um grande desafio. Além da dificuldade natural de encontrar álbuns antigos, os das 'Balas Futebol' apresentam obstáculos adicionais. Os livretos continham figurinhas difíceis, 'carimbadas' em alto-relevo seco, circunstância que dificultava o preenchimento, e, se completos, eram trocados por prêmios. Como não eram recompensas valiosas – usualmente uma bola oficial de futebol –, alguns colecionadores do período optaram por conservar os álbuns em seu poder, que se transformaram em verdadeiras relíquias.
Um exemplar do álbum da Copa do Mundo de 1950 (capa de Miécio Caffé), apenas a título ilustrativo, participou de mostra no Museu da Figurinha em Modena, na Itália, no final de 2007, tendo suas duas primeiras páginas (times do Brasil e do Uruguai) reproduzidas no prestigioso "La Gazzetta dello Sport". "Tenho muitos álbuns das 'Balas Futebol' preenchidos e outros incompletos, motivação suficiente para que eu continue em busca dos faltantes", explica.
Os veteranos – Os álbuns mais antigos da coleção são da década de 30. Se considerar figurinhas soltas, na época em que inexistiam álbuns, as mais antigas são de 1919. "Saliento que, em razão de minha estafante rotina de trabalho, que me priva, muitas vezes, até de um contato familiar mais intenso, gasto menos tempo do que gostaria com a coleção. De qualquer forma, continuo a procurar novos itens para completá-la, de acordo com o critério por mim estabelecido, organizando-a, sempre que possível."
O aficionado colecionador entende que os álbuns de figurinhas são de fundamental importância para a preservação da memória do futebol. Muitos dos álbuns não ficam restritos às imagens dos jogadores, trazendo matérias de jornalistas esportivos de reconhecida importância, como Thomaz Mazzoni.
"Na qualidade de colecionador de álbuns de figurinhas, fui convidado e passei a participar do MEMOFUT (Grupo de Literatura e Memória do Futebol), seleto grupo de estudiosos do assunto, o que confirma a importância dessa vertente de colecionismo", revela. Peres, mesmo com seus 60 anos, continua comprando, em bancas de jornais, os álbuns lançados, bem como as respectivas figurinhas. Segundo ele, poderia adquiri-los já completos, mas isso não lhe traria a mesma satisfação e, além disso, são poucos os álbuns – três ou quatro por ano – que se enquadram no perfil da coleção.
Curiosidade – Moacir Peres tem várias histórias curiosas envolvendo álbuns e figurinhas e narrou uma das mais recentes. Ele contou que o cunhado (irmão de sua esposa) tem um estabelecimento comercial, em uma cidade do interior paulista, que abrange, entre outras coisas, a venda de jornais e revistas. Certo dia, uma advogada 'já madura' compareceu à loja para adquirir figurinhas e confessou que, em razão de sua idade, sentia medo do ridículo, apesar da vontade que tinha de colecioná-las. Disse que a 'coragem' surgiu após a leitura de uma das entrevistas do magistrado-colecionador. A advogada ainda salientou que, "se um desembargador e professor universitário admitia que colecionava figurinhas, ela não poderia nem deveria ter vergonha de seguir o mesmo procedimento", relata o fanático colecionador.
Tudo isso comprova que colecionar figurinhas não é coisa somente de crianças e adolescentes nem que a idade seja um empecilho para dar início a algum projeto. Busque! Todo dia é dia para começar algo novo!
Projeto Jus_Social – Este texto faz parte do Projeto Jus_Social, implementado em março de 2011. Consiste na publicação no site do TJSP, sempre no primeiro minuto do primeiro dia de cada mês, de um texto diferente do padrão técnico-jurídico-institucional. São histórias de vida, habilidades, curiosidades, exemplos de experiências que pautam as notícias publicadas sobre aqueles que, de alguma forma, realizam atividades que se destacam entre servidores ou magistrados. Pode ser no esporte, em campanhas sociais, no trabalho diário, enfim qualquer atividade ou ação que os diferencie. Com isso, anônimos ganham vida e são apresentados. Com o projeto "Jus_Social", o Tribunal de Justiça de São Paulo ganhou o X Prêmio Nacional de Comunicação e Justiça 2012 (categoria Endomarketing).
Comunicação Social TJSP – LV (texto) / RL (fotos)
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