Da goiabeira à poesia – as entrelinhas de um servidor-poeta que teve obras lançadas em Portugal
Havia um menino interiorano que brincara de bola na rua, nos espaços dos carros, como muitos outros meninos, sem preocupação porque o motorista até esperava terminar a jogada para seguir seu caminho. E as árvores? Imagine quantos frutos saborosos foram colhidos e devorados em cima do próprio pé. E os balanços feitos naquelas sombras frondosas? Quantos momentos sublimes de uma infância maravilhosa que serão eternos. Assim, foi a infância de assistente judiciário Daniel Francoy, o ribeirão-pretano que adorava subir na goiabeira do fundo do quintal da casa onde morava, na Vila Tibério. Ele será o homenageado deste mês pelo Projeto Jus_Social. Sua história é um misto de sonhos, encontros, desencontros, descobertas, rock, poesias e o livre arbítrio.
Filho do oficial de justiça Aparecido Francoy e da dona de casa Maria Rita Garcia Francoy, irmão de Cristina Francoy e esposo de Ana Letícia Almeida de Oliveira Francoy, o servidor-poeta entrou no mundo literário de forma inesperada. Foi estudante de escola pública municipal e sempre gostou de ler porque seu pai lhe dava livros, muitas vezes de leitura difícil para sua idade. No entanto, foi quando estudava no cursinho preparatório para o vestibular que a escrita literária surgiu na sua vida.
O advento da literatura – um dia escreveu um texto na contracapa do caderno de um amigo, era uma espécie de crítica sobre o vestibular, acabou passando de mão em mão entre os alunos, todos comentando até cair nas mãos da professora de literatura, que leu em voz alta para a sala toda. Os colegas perguntaram se ele tinha mais textos para passar e ele disse que sim, mas na verdade não tinha e começou a escrever e passar. O que tinha era parte de outro sonho: letras de músicas. Desde adolescente gostava muito de rock, queria ter uma banda, mas não tinha talento para cantar nem tocar ou dinheiro para investir. Ele acreditava que a chance era escrever/compor letras de músicas... Mas escrevia somente para ele. Nesse desencontro, encontrou a poesia. Foi assim que saiu da música para dar um ar de literatura no que escrevia.
O início no Judiciário – na estrada da vida, o caminho nem sempre é uma reta, há curvas, descidas, subidas, desvios, atalhos. Assim foi com Daniel Francoy. O estudante passou no curso de Imagem e Som, na Universidade Federal de São Carlos – UFSCAR, como buscara, mas percebeu que não era esse o seu caminho. Desistiu no sexto mês e resolveu então seguir para o curso de Direito. Cursava a faculdade pela manhã e, à noite, exercitava a literatura com seus poemas.
Depois que se formou, escreveu por um ano e meio. O fruto foi um romance ainda não publicado. Como precisava de emprego, parou de escrever para estudar para concursos. Passou na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e também no concurso do TJSP para escrevente técnico judiciário. Ao ingressar no serviço público, em julho de 2009, voltou a escrever no período noturno e não conseguiu parar mais. "Muita gente até diz que eu deveria prestar concurso para cargo mais elevado, mas não consigo mais abandonar a literatura", observa Francoy. Suas noites semanais são dedicadas para escrever, revisar, anotar e ler. Daniel Francoy é uma pessoa muito discreta e no TJSP nem meia dúzia de pessoas sabe do seu lado poeta. O servidor viaja diariamente de Ribeirão Preto a cidade de Pontal, onde exerce as atividades forenses, e, à noite, viaja no mundo literário.
A descoberta – segundo o próprio Daniel, ele escrevia de forma primária até que, quando tinha seus 20/21 anos, um encontro surgiu: foi descoberto pelo poeta português Nuno Dempster. Nuno conheceu o texto de Daniel pela internet, percebeu seu talento, mas achou que ainda estava 'cru'. O poeta português foi uma espécie de padrinho e professor do jovem poeta brasileiro. Começou a lhe enviar livros pelo correio, corrigir os poemas e lhe dar dicas. O transformou em um poeta completo. Nuno, autor de obras de poesias e contos, também indicou a ele outros contatos do mundo literário.
Além de textos na internet, a literatura rendeu a Daniel o lançamento do seu nome em Portugal: O Debut, de Daniel Francoy, foi num trabalho com Nuno Dempster e mais dois poetas portugueses chamado Quatro Poetas na Net, 2002, Editora Sete Sílaba. De lá para cá, recebeu convite para editar um livro solo, o Em Cidade Estranha/Retratos de Mulheres, 2010, Editora Artefacto. Surgiram mais dois projetos coletivos, com vários poetas, todos editados em Portugal: Revista Agio – Número 1, 2011, Editora Artefacto e Mixtape, 2013, Editora Do Lado Esquerdo. Obra de Daniel Francoy é estudada em curso de poesia contemporânea.
Novidades – no final de 2013, Francoy recebeu um convite de uma editora portuguesa e já está em tratativas a elaboração de um projeto que unirá poesia (quatro poetas) e música contemporânea (quatro músicos). A ideia é a de que os músicos se inspirem em poemas para suas obras.
Além disso, Daniel Francoy já escreveu Abril, seu segundo livro (solo) de poesia, e procura uma editora para publicar. Bem que esse poderia ser em território brasileiro, não é mesmo?
Projeto Jus_Social – Este texto faz parte do Projeto Jus_Social, implementado em março de 2011. Consiste na publicação no site do TJSP, sempre no primeiro minuto do primeiro dia de cada mês, de um texto diferente do padrão técnico-jurídico-institucional. São histórias de vida, habilidades, curiosidades, exemplos de experiências que pautam as notícias publicadas sobre aqueles que – de alguma forma – realizam atividades que se destacam entre os servidores ou magistrados. Pode ser no esporte, campanhas sociais, no trabalho diário, enfim, qualquer atividade ou ação que o diferencie. Com isso, anônimos ganham vida e são apresentados. Com o projeto "Jus_Social", o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo ganhou o X Prêmio Nacional de Comunicação e Justiça 2012 (categoria Endomarketing).
Comunicação Social TJSP – LV(texto) / Arquivo pessoal (fotos)
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