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Integrante da Família Forense exerce quatro décadas de trabalho no mesmo setor

        Um ano se vai, um ano vem e, de repente, passaram-se 40 anos de trabalho e, mais que isso, todo esse tempo no mesmo setor: Recursos Humanos. Esse é o relato da vida da funcionária Maria de Fátima Nunes, diretora de Ingresso e Movimentação de Servidores do Tribunal de Justiça de São Paulo. Esse fato enigmático mostra como uma intuição, talvez quem sabe uma grande sensibilidade, acompanhada de atitudes podem mudar o rumo da vida de muitas pessoas. Neste mês, o Projeto Jus_Social conta um pouquinho dessa história. 
        Fátima nasceu em Uberaba/MG, filha da dona de casa, Genita Luciana Nunes e do caminhoneiro Sebastião de Souza Nunes. Com quatro anos, aprendeu a ler e escrever com seu pai que elogiava o aprendizado e interesse da menina. Achava aquilo 'o máximo' e sonhava que ela se tornasse uma excelente professora. Infelizmente, ele partiu a deixando orfã quando tinha apenas nove anos, mas as lembranças dele na sua vida serão eternas. Desde essa idade, começou a trabalhar em casa de família e permaneceu nessa atividade até os 19 anos. 
        Em 1970, em pleno domingo de Carnaval, com 15 anos, Fátima mudou-se para São Paulo com emprego arrumado para cuidar de duas crianças, na Zona Sul da cidade (Praça da Árvore). Com mala e cuia, ela pisou em terras paulistanas. No caminho da nova morada passou na frente de um edifício e, de maneira inexplicável, olhou para ele e pensou: "um dia vou trabalhar neste prédio". No entanto, a adolescente não tinha a menor noção que prédio era aquele e muito menos que tipo de trabalho era realizado no local. A única certeza que tinha era que iria trabalhar lá um dia e... seguiu sua trajetória.

        Concretização – Passados quatro anos, Nanci, a prima de Fátima, avisou-lhe que havia um concurso aberto para escriturário do Tribunal de Justiça e lhe passou o endereço. Lá foi ela ao local. Quando chegou, para sua surpresa, era aquele prédio que viu no dia em que chegou na capital e que sentiu que, alum dia, trabalharia ali. O edifício nada mais era o Fórum João Mendes Júnior. Assim, ingressou no TJSP e, entre os 1500 classificados, obteve o 136º lugar. Adivinha só onde foi trabalhar? Lá mesmo, no FJMJ, setor de Recursos Humanos, o então conhecido Departamento Pessoal (Depe). Em 7 de dezembro de 1973 iniciou suas atividades forenses e sua profetização foi concretizada.
       O Depe, ao longo de quatro décadas, passou por mudanças na nomenclatura como em 2005 que virou SRH – Secretaria de Recursos Humanos e atualmente é SPRH – Secretaria de Planejamento em Recursos Humanos. O cargo inicial dela também mudou até chegar em escrevente técnico judiciário. Fátima disse que seu ingresso no Judiciário aconteceu de forma inusitada. Quando tomou posse estava às vésperas de dar à luz seu primeiro filho, Wilson, que nasceu cerca de um mês depois. Foi o primeiro caso no TJSP de uma pessoa empossar e estar prestes a sair. Isso causou um grande dúvida entre os funcionários do setor, se o fato poderia ou não acontecer. Entretanto, o diretor na época, Odécio Rubens de Almeida Nigro assegurou que ela estava apta sim, gravidez não era doença e, além do mais, já havia passado por perícia médica que constatara sua capacidade laborativa.

        Realização profissional e pessoal – Durante esse período de Família Forense, Fátima garante que recebeu um grande presente quando foi designada para dirigir a seção onde estavam alocados os servidores em tratamento médico. "Esse foi o grande aprendizado da minha vida. Um belo presente trabalhar com essas pessoas. Aprendi mais ainda a respeitar as pessoas doentes, acreditar nos seres humanos." Lidando com esses pacientes, a servidora expulsou de sua mente os preconceitos existentes até então. Por falta de conhecimento, acreditava que depressão era falta do que fazer, mas ao trabalhar com os doentes percebeu o quanto era grave, que era necessário o tratamento e que pacientes mereciam muito respeito. 
        Certa vez, sabendo que uma pessoa em tratamento já havia tentado tirar a própria vida por algumas vezes, percebeu que ela precisava de um apoio além do institucional para se recuperar. Chamou-a para conversar e sugeriu que buscasse a ajuda espiritual, sem lhe indicar uma ou outra religião e a incentivou a continuar com o tratamento médico. Perguntou a ela se teria algo que gostaria de fazer e que ainda não tinha feito por algum motivo e a incentivou a fazer também. Após a longa conversa, a paciente seguiu os conselhos de Fátima e foi sucesso total: parou de fumar, curou-se da forte depressão e foi fazer caridade social no mesmo local onde obteve a ajuda espiritual. "Minha vida não seria a mesma se eu não tivesse passado por esse setor. Os doentes vão buscar ajuda e, na verdade, são eles que ajudam a gente", declara Maria de Fátima. Ela também revela que toda a educação que deu à família deve ao Tribunal, de onde tirou seu ganha-pão. Além de Wilson, é mãe de Rita e Victor e avó de Mateus, Gabriela e Júlia. "Tenho muito a agradecer a Deus por tudo na vida. Amo tanto meu trabalho e continuo a contribuir para o Tribunal."
        Na ocasião do ingresso, o cargo exigia apenas a 4ª série do antigo curso primário. Porém, após cuidar dos seus três filhos, Fátima fez o supletivo e, em seguida, cursou Direito.  
         
        Maria de Fátima Nunes deixa uma mensagem
 – "Trabalhe com amor e não precisará mais que isso. Não podemos trabalhar porque temos um salário no início do mês e, sim, trabalhar com amor." Ela quis ainda registrar uma mensagem recebida de uma amiga  e que guarda com muito carinho: "Faça tudo com amor. Uma boneca feita de retalhos de pano, e com amor, deixa de ser uma simples boneca de pano e se transforma na mais linda boneca. Sem amor, ficará horrível".
  

        Projeto Jus_Social – Este texto faz parte do Projeto Jus_Social, implementado em março de 2011. Consiste na publicação no site do TJSP, sempre no primeiro minuto do primeiro dia de cada mês, de um texto diferente do padrão técnico-jurídico-institucional. São histórias de vida, habilidades, curiosidades, exemplos de experiências que pautam as notícias publicadas sobre aqueles que – de alguma forma – realizam atividades que se destacam entre os servidores ou magistrados. Pode ser no esporte, campanhas sociais, no trabalho diário, enfim, qualquer atividade ou ação que o diferencie. Com isso, anônimos ganham vida e são apresentados. Com o projeto "Jus_Social", o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo ganhou o X Prêmio Nacional de Comunicação e Justiça 2012 (categoria Endomarketing).
        NR: Neste mês, em razão do recesso forense, o texto é publicado no primeiro minuto do primeiro dia útil após o recesso.

        Comunicação TJSP - LV (texto e foto) 
        imprensatj@tjsp.jus.br


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