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De Tércio Pires a Thé Lopes, da toga ao violão – a vazão cultural de um magistrado

        Em uma das Varas de Família do Fórum João Mendes, por detrás de uma mesa com processos e realizações de audiências, há um magistrado que em suas veias correm cifras musicais que iluminam seu dia e faz o trabalho fluir: Tércio Pires, o juiz que deixou aflorar seu viés artístico por meio do pseudônimo Thé Lopes.

        Há exatamente dez anos, em 2003, surgiu Thé Lopes – numa época em que a magistratura era muito conservadora e havia muito preconceito da sociedade de um modo geral. O juiz era juiz, não podia ter uma vida como qualquer outro ser humano e aqueles que tinham um lado cultural, deixava-o escondido, mantido ‘a sete chaves’. Mas, Tércio Pires resolveu destrancar todas essas chaves e cometeu uma grande ousadia como magistrado: a de exibir o artista e lançou o CD "P'ra Te Ver Voar". Essa abertura fez com que outros magistrados-artistas aparecessem e começassem a se movimentar.

        Na ocasião, o assunto poderia envolver Corregedoria Geral da Justiça e ele, com esse receio, editou um CD bem comportado. "Acabei sendo ousado a ponto de lançar o CD como magistrado. Outros tantos juízes cantavam, mas, por questão de tradição judiciária, isso era sufocado. Muitos compunham e davam para outros gravarem." Pode-se dizer que a ousadia foi além do imaginável. As cifras musicais transformaram em cifrão de dinheiro, ou melhor dizendo, em cifrões sociais, pois toda a renda arrecadada com a venda de CDs, desde àquela época até hoje, é doada a instituições filantrópicas. "Podia explorar comercialmente, mas não tenho esse interesse. Sempre busquei ajudar como posso. Com a música, tenho a oportunidade de ajudar o próximo e dar vazão ao hobby. Toco somente para compor."

        Por inúmeros acontecimentos – muito trabalho forense e muitas mudanças – levou o magistrado-músico a retardar o lançamento do segundo CD, que foi editado somente em 2011. Em verdade, o "Redenção", ainda não teve o lançamento oficial. A divulgação é feita por produtora e pela distribuidora para o Brasil inteiro.  Esse CD já bem mais "atrevido", tem como linha de composição a poesia concreta. A base do CD é dos músicos do Programa do Faustão. Os arranjos são de Marcos Pontes, a música de Márcio Coelho (Amor Audaz) e Thé Lopes canta em parceria com Ana Favaretto.

        Nos últimos anos ele auxilia instituições religiosas, de crianças e de idosos. Tudo que brota das vendas vai para as instituições; se não entra nenhum dinheiro, põe do próprio bolso. Também doa os CDs para brindes que são convertidos em renda quando da realização de festas. Há instituições fixas que recebem ajuda como a Abem (Associação Brasileira de Esclerose Múltipla), Fundação Dorna Nowill (para cegos), Graacc (Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer) e Arautos do Evangelho (religiosa). O auxílio vai também para instituições católicas de formação de seminaristas (subsídios para manutenção dos que ficam abrigados), bem como as de edificação, que levam paz, alento e serenidade às pessoas.

 

        Surgimento do artista – O sangue cultural está presente nas veias de Tércio Pires desde criança. Na adolescência, já desenvolvia aptidão para o teatro, sem saber se teria vazão ou não. Fez dois anos de aulas com a atriz Claudia Alencar e ficou em 2º lugar no festival teatral. Como tocava violão desde pequeno, investiu na música e participou do Festival Juvenil da Canção: ficou em 5º lugar e foi considerado o melhor interprete. Seguiu o caminho jurídico, mas nunca deixou de compor e nunca se esqueceu da música.

        Muito ativo, sempre também gostou de esportes. No futebol foi além da várzea, era um amador sério que chegou a fazer teste para o profissional. Em cima de uma moto conseguia ficar sobre uma ou duas rodas, suas acrobacias eram as mais diversas, inclusive empinava com a roda da frente e a traseira. Meio sem jeito, sorridente, conta que participava (final da década de 70 e início dos anos 80) de um grupo de motoqueiros que se reunia no Parque do Ibirapuera. Era feita uma grande roda na qual os ‘artistas das rodas’ ficavam no meio e exibiam acrobacias para o delírio de centenas de pessoas que ali estavam para apreciar o show.

        Nessa época, nem tudo era alegria. Um dos motoqueiros (que um dia veio se tornar juiz) acabou sofrendo muitas quedas de moto, mais de trinta. Numa delas, teve fratura no crânio, ficou em estado de coma. Do coma ele saiu, mas ficou com uma vista prejudicada e teve que dar outro rumo à vida. Por orientação médica parou de pilotar. Para piorar, em campo levou uma bolada no olho direito, o que o fez, praticamente, perder a visão. Ao longo de 25 anos, quatro cirurgias foram realizadas. Mas não desistiu do esporte: pratica musculação, academia, natação e corrida.

 

        TJSP na sua vida – O Tribunal entrou em sua vida no ano de 1985, quando tomou posse como escrevente técnico judiciário. O amor pelos processos foi grande e, de lá para cá, deles não conseguiu mais se separar. Seis anos depois tomou posse como magistrado e foi trabalhar em Monte Azul Paulista. Em sua trajetória, de 1985 a 1991, conheceu todo o trabalho cartorário, foi escrevente-chefe, oficial maior e escrivão diretor em cartório cível. Como magistrado passou por algumas comarcas e atuou em vara criminal no Fórum Ministro Mário Guimarães – Barra Funda, Juizado Cível do Ipiranga, acumulou o eleitoral e agora está na 10º Vara da Família e das Sucessões do Fórum João Mendes Jr. Antes do TJSP, havia trabalhado como arquivista numa multinacional e na Comissão Nacional de Energia Nuclear, hoje denominada Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN).

        Tércio Pires revela que adora estudar Direito Cível, mas gosta de atuar na área Penal e que preza muito a ampliação do conhecimento. Seu pai, escrivão de polícia, faleceu quando ele tinha 17 anos. O juiz ressalta que o pai foi uma pessoa que deixou um nome que o honra muito. “Um ser decente e de caráter.” O carinho ao falar da família consta na dedicatória da contracapa de seu primeiro CD: “à memória de meus pais Mercedes e Sebastião, cujas orientações rogo aos “Céus” sejam ainda melhor assimiladas por Caio e Victor, felicidades a mim me conferidas pelo amor da paciente e dedicada Valéria”. O filho de dona Mercedes e seu Sebastião tem um casal de irmãos mais velhos. Casado com Valéria, tem três filhos: dois meninos e uma menina (Caio, Victor e Helena).

 

        Mensagem – Tércio Pires deixa seu recado: “não existe melhor forma de exteriorizar sentimentos que por meio da música. Quem nunca parou para ouvir uma musica? Tenho orgulho de poder, de alguma forma, ter contribuído para modificar a visão de dirigentes do Judiciário, que é absolutamente indispensável tendo em vista a agudez da natureza que nós exercemos, a ocupação com entretenimento de ordem cultural. Isso só faz incrementar, aperfeiçoar e empolgar o desempenho. Tanto isso é verdade que a minha performance profissional, no que se refere à produção e à qualidade, acha-se revelada nas certidões que sempre tomei o cuidado de encaminhar ao Tribunal depois das minhas mudanças de varas e comarcas”, afirma.

 

        Projeto Jus_Social – Este texto faz parte do Projeto Jus_Social, implementado em março de 2011. Consiste na publicação no site do TJSP, sempre no primeiro minuto do primeiro dia de cada mês, de um texto diferente do padrão técnico-jurídico-institucional. São histórias de vida, habilidades, curiosidades, exemplos de experiências que pautam as notícias publicadas sobre aqueles que – de alguma forma – realizam atividades que se destacam entre os servidores ou magistrados. Pode ser no esporte, campanhas sociais, no trabalho diário, enfim, qualquer atividade ou ação que o diferencie. Com isso, anônimos ganham vida e são apresentados. Com o projeto “Jus_Social”, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo ganhou o X Prêmio Nacional de Comunicação e Justiça 2012 (categoria Endomarketing).

 

        Comunicação Social TJSP – LV (texto e fotos)
        
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