Deixar a direção e pedalar faz parte da vida de funcionários do TJSP
O Jus_Social deste mês retrata dois funcionários do Tribunal de Justiça de São Paulo que, além das funções forenses, investem parte de suas horas no ciclismo. O aventureiro Paulo Andreon Faria, motorista que adora pedalar, e Adilson Gomes da Costa, o escrevente Ironman. Pedalando aqui, lá ou acolá, cada um segue seu caminho e tem muita história para contar.
Paulo Andreon Faria
Natural de Barbacena, Minas Gerais, Paulo desde pequeno era apaixonado por carros e, pela força do destino, atualmente é agente de segurança (motorista) do Tribunal de Justiça de São Paulo. Filho de Maria Onézima G. Faria e José Cosme de Faria, para ele não havia tempo ruim – fabricava seus próprios brinquedos.
Seu relato faz muita gente de origem humilde, ou que viveu no interior, rememorar fases de uma vida em que a criatividade era utilizada para vencer obstáculos da falta de condições financeiras. Não havia tecnologia, brinquedos eletrônicos e a facilidade de consumo que se tem hoje.
Paulo construiu muitos carrinhos, caminhões, ônibus e tratores. Utilizava madeira, embalagens vazias e barbantes na maioria de suas obras. Com as latas de sardinha, por exemplo, fabricava trenzinhos e com as de óleo, além de carrinhos, fazia um brinquedo conhecido como "pata de vaca" – com a ajuda de um barbante, a criança anda com as latas sob os pés deixando marcas na terra, semelhantes às patas do animal. O cabo de vassoura era usado para as rodinhas dos carrinhos.
A chegada da bike em sua vida: na adolescência pegou gosto pela bike, mas como não tinha condições de comprar uma nova, adquiria modelos velhos, reformava, ficava um tempo com a bicicleta e vendia para começar tudo de novo. Nunca mais parou de pedalar.
Em maio deste ano, ele saiu do centro de São Paulo, de madrugada, para percorrer, em cinco dias, 567 km – da capital paulista a Barbacena, sua terra natal – com uma parada religiosa em Aparecida para encontrar o grupo de sua paróquia e, em outros locais, para descansar. Para não causar preocupações, somente avisou sua esposa, Marilene, e o irmão, Genésio.
Bike revisada, alforje cheio (barraca, saco de dormir, cobertor, colchonete, lanche, isolante térmico e demais apetrechos para uma emergência) e Faria deu início às pedaladas. Durante a viagem, ele curtiu a chuva cair sobre a vegetação verdinha da serra já em território mineiro; em outros momentos, pôde observar a fumaça do fogão de lenha das poucas casas que via pelo caminho, encravadas no pé das montanhas. "Dava até pra sentir no imaginário o gostinho do café dentro das casas ao som de uma moda de viola vindo do radinho", contou.
A chuva não trouxe somente beleza, mas também muita lama para cortar com sua bike. Caminhões atolados faziam parte do cenário e um deles derrapou em sua direção. "Foi um momento tenso da viagem", afirma. Ao chegar em Barbacena, foi recebido por familiares ansiosos (sogros, cunhados e sobrinhos) que esperavam a chegada do aventureiro. "Foi muito gratificante para mim essa viagem. Fiz um verdadeiro retiro, uma verdadeira reflexão sobre a vida, trabalho, família e saúde."
Neste mês, aproveitando o feriado (6 a 9), Paulo e um grupo de amigos farão o trajeto “Caminho do Sol”, em que percorrerão 260 km de São Paulo a São Pedro, no interior do Estado. Entretanto, seu objetivo maior é fazer uma cicloviagem no litoral nordestino, a partir de 3 de agosto. Ele e o irmão irão de avião até Salvador. De lá, vão até Natal, no Rio Grande do Norte, fazendo o possível para sempre pedalar perto da praia. Asfalto, só em último caso.
Segundo Faria, que de duas a três vezes por semana vai trabalhar de bicicleta, a maior dificuldade do ciclista é compartilhar o mesmo espaço com carros e pedestres. "Busco sempre conscientizar os colegas motoristas para que respeitem o ciclista, e o ciclista, para que respeite o pedestre". Faria mora no bairro do Campo Limpo, zona sul da cidade, cerca de 22 km do centro. O tempo que gasta pedalando de sua casa ao trabalho é praticamente o mesmo que gastaria indo de carro (em torno de 1h10). Ele elenca alguns benefícios trazidos pelas pedaladas, como a questão ambiental: usar a bike significa um carro a menos para poluir. E salienta o reflexo na saúde da população e do ciclista. "Uma cidade mais saudável reflete no Poder Público, pois menos pessoas ficarão doentes e, consequentemente, haverá uma redução no uso dos serviços de saúde." Ele completa: “está na hora das autoridades pensarem mais sobre a questão e investirem na criação não somente de ciclovia de lazer, mas também na funcional. Há muitas pessoas que não utilizam a bicicleta diariamente porque a cidade não está preparada".
Para Faria, as pedaladas só trazem benefícios e funcionam como um desestressante, contribuindo para melhorar o relacionamento com colegas, família e até com os desconhecidos. "Quero agradecer a Deus pela saúde, trabalho e paz que tenho a cada dia; à esposa, familiares e amigos pelo incentivo." Ele não se esqueceu de agradecer aos motoristas que o respeitaram na estrada e a todos que colaboraram com algum tipo de dica ou informação.
Adilson Gomes da Costa
O esporte chegou na vida de Costa em abril de 2000. Ele estava com 30 anos quando, em um simples check-up, foi constatado que era hipertenso. Ao invés de se chatear, percebeu que poderia tirar proveito desta situação, e então começou a praticar esporte de forma organizada, disciplinada e monitorada.
Passou a aproveitar cada minuto vago da sua vida atribulada, fazendo natação no Sesc, correndo na pista do Museu do Ipiranga durante a semana e, nos finais de semana, deu inicio ao ciclismo. Em seguida, começou a pedalar em estradas com amigos e, em 2003, fez a primeira prova de triathlon, em Santos. No mesmo ano, conheceu a prova de triathlon de Pirassununga, com distâncias curtas (900 metros de natação, 25 km de pedal e 10 km de corrida).
"A coisa foi pegando forma e o triathlon começou a fazer parte da minha vida. Com um grande incentivo da família, fui treinando cada fez mais e aproveitei todo o tempo que tinha: acordava cedo para levar as crianças à escola, treinava 50 minutos pela manhã, ia trabalhar em período integral, das 9 às 17 horas, depois treinava por mais uma hora e buscava as filhas na escola" , relembra o esportista.
Costa afirma que não era simples essa rotina, mas a vontade de conquistar os objetivos era tanta que tudo parecia bem fácil. "Nesta altura meu problema de pressão já estava controlado e o médico tinha me parabenizado, mas eu teria que continuar me cuidando", declara. Em 2005, resolveu fazer uma prova mais longa: o triathlon log distance de Pirassununga (1.800 metros de natação, 90 km de ciclismo e 21 km de corrida). Tudo isso ainda era pouco, ele queria mais! Sonhava com o Ironman! Segundo o site oficial no Brasil, o Ironman é considerado o maior evento de triathlon do mundo. Desafia os atletas a percorrer 3.8 km de natação, 180.2 km de ciclismo e 42.2 km de corrida em percursos de tirar o fôlego. São realizados 29 eventos em todo o mundo, sendo somente um na América do Sul: o Ironman Brasil, em Florianópolis.
A vida esportista de Costa mudou de rumo quando lhe foi apresentado Heroi Fung, em 2008. Para ele, Fung foi "uma espécie de guru, tipo aquele senhorzinho do filme “karate kid”. O mestre o orientou sobre corrida, qualidade de vida, preparação física e, de certa forma, no equilíbrio emocional. Com o apoio do Heroi Fung, da esposa, Magda, das filhas Beatriz e Geovanna, consultadas anteriormente, pois deixaria de dar a atenção a elas na mesma intensidade, iniciou o treino pesado para o Ironman 2010. Sessões de corridas intermináveis, mesmo antes de amanhecer o dia, seguidas de sessões estafantes de natação e horas em cima do rolo de ciclismo, pois pedalar na rua durante a semana era impossível.
Ele conta que num dos treinos, que parecia não ter fim em cima da bike, percebeu por volta do km 130 que o seu sonho estava próximo. “Realmente não era fácil ser pai de família, trabalhar oito horas diárias, ficar duas horas no trânsito e conseguir cumprir uma quilometragem média de 900 km por mês de treinamento, incluindo natação, bike e corrida. Já era possível me considerar um Ironman!”, ressalta. Para Costa faltava “a cereja em cima do bolo”. Depois de tanto treino, o bolo estava pronto e ele foi buscar a cereja em Floripa!
Em 30 de maio de 2010, na beira do mar, após abraçar todos que foram acompanhá-lo, percebeu que se divertiria muito naquele dia. “Hoje é meu dia especial!”, pensou. Ao ouvir a buzina da largada, sentiu uma energia positiva tomar conta dele. “Nadei bem tranquilo os 3.800 metros de mar que tinha uma leve correnteza, sai muito calmo na transição para o ciclismo (180 km) e segui no pedal que, apesar do vento e da chuva, fui muito bem. Eu prosseguia sem me preocupar se ia chegar em primeiro ou em último. Eu queria apenas chegar. Quando fiz a transição para a corrida (42 km) percebi que estava muito bem fisicamente. Fiz uma corrida tão perfeita que não via nada na minha frente, percebia apenas que minhas pernas estavam sem dores, leves e soltas!”
Ele diz que tudo foi perfeito, desde a viagem de carro com a família para Florianópolis até o término da prova. Também a convivência com o Heroi Fung, que também compareceu para fazer parte da festa, e a prova, que foi além de suas expectativas.
Conclusão: A cereja foi colocada em cima do bolo! Com 40 anos, ele conseguiu que o sonho se tornasse realidade. "Me tornei um Ironman ao ver minha família me aguardando na linha de chegada. Vi que eu não era só um homem de ferro, mas sim, um exemplo de vida para minhas filhas, e este prêmio para mim é muito mais importante que o ponto mais alto do pódio", declara feliz. Em 2011 e 2013 participou novamente da prova. Em 2012, não foi por motivo de saúde, mas está de olho na Ironman Brasil 2015.
Adilson agradece a todos que contribuíram para sua trajetória. À família, que sempre o apoiou nessa empreitada; aos pais, que sempre estiveram presentes em sua vida, inclusive na linha de chegada; ao mestre Fung, pela orientação e treino; ao primo Ricardo, pela ajuda com o material esportivo e apoio moral; e a uma empresa que o patrocinou por algum tempo. Enfim, a todos os amigos que sempre estiveram ao seu lado.
Projeto Jus_Social – Este texto faz parte do Projeto Jus_Social, implementado em março de 2011. Consiste na publicação no site do TJSP, sempre no primeiro minuto do primeiro dia de cada mês, de um texto diferente do padrão técnico-jurídico-institucional. São histórias de vida, habilidades, curiosidades, exemplos de experiências que pautam notícias sobre aqueles que – de alguma forma – realizam atividades que se destacam entre os servidores ou magistrados. Pode ser no esporte, campanhas sociais, no trabalho diário, enfim, qualquer atividade ou ação que o diferencie. Com isso, anônimos ganham vida e são apresentados. Com o projeto “Jus_Social”, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo ganhou o X Prêmio Nacional de Comunicação e Justiça 2012 (categoria Endomarketing).
NR: Participe. Envie sugestões de pauta sobre magistrados e servidores do Poder Judiciário para o e-mail da Comunicação Social.
Comunicação TJSP – LV (texto) / arquivo pessoal dos entrevistados (fotos)
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